Restos de Colecção: Fábrica de Gás da Matinha

6 de fevereiro de 2015

Fábrica de Gás da Matinha

A “Fábrica de Gás da Matinha” foi inaugurada oficialmente, e já em pleno funcionamento, com a presença do Ministro das Obras Públicas Costa Leite (Lumbrales), na Matinha junto ao bairro dos Olivais, em Lisboa, a 8 de Janeiro de 1944. Apesar da conclusão das obras se ter verificado em 1940 e de ter entrado em funcionamento experimental em 29 de Novembro de 1943, a sua inauguração oficial tinha sido adiada devido ao início da II Grande Guerra Mundial. A administração, à data da inauguração, era composta pelo dr. António Centeno, dr. J. de Stoop, dr. Augusto de Vasconcelos e dr. José Cabral, o director técnico da fábrica era Maurice de Roo, e o engenheiro-chefe Pompeu Nolasco da Silva.

Panorâmica da “Fábrica de Gás da Matinha” à data da sua inauguração

Inauguração oficial em 8 de Janeiro de 1944

Recordo que a iluminação pública - os primeiros 28 candeeiros da gás de Lisboa iluminaram-se na noite de 29 de Junho de 1848 -, a nova facilidade dos banhos quentes ou os fogões a gás - no anos 30 vendidos a crédito e com cursos para o seu «manejo cuidadoso» - tinham criado uma nova era. «A dona de casa, por exemplo, é uma figura completamente diferente antes e depois do gás. O gás, trazido para Portugal pelo Conde de Farrobo, não chegou atrasado no tempo. Era a novidade da época e mudou tudo. As carvoarias, por exemplo, vão acabando e no seu lugar surgem mercearias, as casas das Avenidas Novas são todas equipadas com aquecimento central a gás. Os próprios carros a gás apareceram durante a segunda Guerra Mundial - era o gasogénio. Hoje, a Lisboagás, instalada na última fábrica do género existente na Europa, é herdeira disso».

Em 1928, fica estabelecido no novo contrato de concessão da Fábrica de Gaz de Belem que, num futuro próximo, a fábrica de gás seria novamente deslocada. Esse processo inicia-se em 1934, altura em que é definido como local ideal para a construção da nova fábrica um espaço na margem do Tejo junto à Quinta da Matinha, próximo à Refinaria de Cabo Ruivo, que seria inaugurada em 11 de Novembro de 1940. Durante o processo de construção da “Fábrica de Gás da Matinha”, toda a produção das "Companhias Reunidas de Gaz e Electricidade" é garantida pela “Fabrica de Gaz de Belem”, que só terminaria a sua laboração em 9 de Junho de 1949.

Planta topográfica da zona da Quinta da Matinha, de Novembro de 1907

Os trabalhos de saneamento do terreno onde seria construída a "Fábrica de Gás da Matinha" tiveram início entre 1938 e 1940, ocupando 4 dos 20 hectares conquistados ao rio Tejo. As obras de construção da fábrica tiveram início em 1939, incluindo uma canalização de cerca de 15 quilómetros e concluídas em 1940, mas cuja inauguração oficial foi adiada para 8 de Janeiro de 1944, devido à eclosão da II Guerra Mundial, como já foi anteriormente mencionado.

Páginas de “Revista Municipal” de 1940 relativas à construção da “Fábrica de Gás da Matinha”

Local da implantação da “Fábrica do Gás da Matinha”, a “Quinta da Matinha”

Construção do aterro de cerca de 20 hectares

 

 

Fundações e início da construção

«As vinte camaras, ou retortas verticais, estão instaladas num edifício de 34 metros de comprimento por 22 de largura, funcionando mecanicamente todo o trabalho. E o fabrico do gás pode ser dividido em cinco fases distintas: a destilação continua nessas camaras; a depuração; a desbenzolagem; a armazenagem e o transporte.
Além da fabrica do gás, ha uma ponte-cais e uma muralha ao longo do rio, bem como uma moderna destilação de alcatrão, onde se lhe tiram os sub-produtos: benzol, oleos fenólicos, oleos pesados, breu, naftalina, etc.
(...) Nos serviços anexos ha um excelente refeitorio para o pessoal, um posto medico e duches.» in Diario de Lisboa

 

A fábrica entrou em declínio em 1957 com a fusão da "CRGE - Companhias Reunidas de Gaz e Electricidade " com a "SACOR - Sociedade Anónima de Combustíveis e Óleos Refinados", que aprtir dessa altura passaram a produzir gás com base nos subprodutos da refinaria de Cabo Ruivo, tendo sido dada por terminada a produção de gás a partir do carvão em 1958.

Cronologia da “Fábrica de Gás da Matinha” e da produção de gás em Lisboa, a partir de 1928:

1928 - Contrato entre a Câmara Municipal de Lisboa e a CRGE que prevê a mudança da “Fabrica de Gaz de Belem” num prazo de três anos.
1934 - Escolha por ambas as partes da futura localização da fábrica, junto a Quinta de Matinha.
1938 - O Governo da ditadura militar intervém, atendendo á perspectiva da celebração dos centenários de 1140-1640-1940, com a “
Exposição do Mundo Português”.
1938-1940 - Trabalhos de aterro da Praia da Matinha e construção de uma ponte-cais para criar o espaço necessário para a nova fábrica, financiados pelo Estado, e instalação de alta pressão para ligar a fabrica a rede de distribuição junta á uma nova canalização de 14 quilómetros de comprimento, financiada pela Câmara Municipal de Lisboa.
1939 - Começo das obras da fábrica mesma.
1940 - A fábrica está construída. Abre em Belém a “
Exposição do Mundo Português”.
1942 - Criada a Zona Industrial do Porto de Lisboa, em Cabo Ruivo, que integra a futura “Fábrica de Gás da Matinha”.
1944, 8 Janeiro - Inauguração da “Fábrica de Gás da Matinha”, adiada por a prorrogação devida á II Grande Guerra Mundial.

1947-1967 - Produção de gás a partir do carvão e do petróleo, processo da água carbonatada.
1947 - Primeiras obras de extensão da fábrica, com a construção do segundo gasómetro, com maior capacidade do que o primeiro (1948).
1949 - Encerramento da “Fábrica do Gás de Belém” e desmontagem e demolição da mesma que terminaria a 7 de Junho de 1950.
1950-1951 - Segundas obras de extensão da fábrica.
1954 - Terceiras obras de extensão da fábrica, com a construção do terceiro gasómetro.
1954 - Quartas obras de extensão da fábrica, com a construção do quarto gasómetro.
1957 - A CRGE e a “SACOR - Sociedade Anónima de Combustíveis e Óleos Refinados”, criam a “Sociedade Portuguesa da Petroquímica”. A partir de então a produção de gás ocorre por via petrolífera, com base nos subprodutos da refinaria de Cabo Ruivo, dando por terminada a produção de gás a partir do carvão (1958).
1979 - A empresa publica de gás e electricidade, a “Electricidade de Portugal” - EDP”, separa-se, ficando as instalações da Matinha na posse da “Petroquímica e Gás de Portugal, E.P”.
1989 - Nasce a empresa “GDP - Gás de Portugal, S.A.”
1992 - Lisboa ganha a candidatura para organizar a “Exposição Internacional de Lisboa 1998”, e começam as obras.
1995 - A GDP reestrutura-se na GDL (Gás de Lisboa).
1998 - Inauguração da “Exposição Internacional de Lisboa de 1998” (EXPO’98).
1999 - Fundação da “GALP - Petróleos e Gás de Portugal SGPS, S.A.” detentora da “Petrogal” e da “Gás de Portugal”.
2005 - A Câmara Municipal de Lisboa promove um concurso para planear o Plano de Pormenor de Matinha.
2007 - Demolição da antiga “Fábrica de Gás da Matinha” e dos “Armazéns da Matinha”, deixando em pé só os quatro gasómetros.

                               2007                                                                                       2011

 

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital

1 comentário:

Manuel Peñascoso disse...

Orgânica da Fábrica da Matinha em 1960
Director – Engenheiro Pompeu Nolasco a Silva
Chefes de turno chefiados pelo Agente técnico Costa Pereira:
• Agente Técnico Jorge de Sousa
• Agente Técnico Sá Guerra
• Agente Técnico Cândido
• Agente Técnico Celestino Henriques Dias
O Laboratório era chefiado pelo Engenheiro Domingos que acumulava a função de Sub-Director da Fábrica.
Depois de qua Petroquímica passou a fornecer o gás às CRGE a Divisão do Gás, compressão, armazenagem e distribuição, passou a ser chefiada pelo Engenheiro Alves da Costa.