Restos de Colecção: Livraria Lello & Irmão

20 de dezembro de 2012

Livraria Lello & Irmão

A “Livraria Chardron”, de “Lello & Irmão”, na Rua das Carmelitas no Porto, foi inaugurada em 13 de Janeiro de 1906.


Inauguração



Fachada em 1906

Em 1869 é fundada a “Livraria Internacional”, na R. dos Clérigos pelo francês Ernesto Chardron.  Outrora empregado da “Livraria Moré”, Chardron projectava-se agora e doravante como invulgar editor publicando obras de relevo, como o "Tesouro da Literatura Portuguesa", de Frei Domingos Vieira ou o "Dicionário de Conversação", além de grande parte das obras do insigne romancista português, Camilo Castelo Branco. Ernesto Chardron foi considerado um editor deveras audacioso ao abrir o mercado livreiro português ao Brasil e África, tendo morrido com 45 anos.

Entretanto José Lello com o cunhado cria a firma “David Pereira & Lello” e após a morte de David Pereira a firma passa a chamar-se, em 1882, “José Pinto de Sousa Lello & Irmão”. Após a morte de Ernest Chardron a “Livraria Chardron” foi vendida á firma “Lugan & Genelioux Sucessores”, e depois do falecimento de Genelioux, Mathieux Lugan ficou como seu único proprietário. Em 1894 Mathieux Lugan vende a “Livraria Chardron” aos irmãos José Lello e António Pinto de Sousa Lello, e em 1919 passa a designar-se “Livraria Lello & Irmão”.

A propósito da inauguração da nova “Livraria Chardron” o director da Biblioteca Nacional de Lisboa Dr. Xavier da Cunha a seguinte mensagem:

«Nas mão de V. Exªs o trato dos livros não é uma industria mercantil, é uma religião; a sua laboriosidade é um sacerdócio;  a sua casa é um templo.
Pela auspiciosa inauguração que hoje se realiza do novo templo, eu na minha qualidade de director da Bibliotheca Nacional de Lisboa, sinto-me feliz em dar enthusiasticamente a VV. Exªs mil parabens».

Por sua vez a Revista Occidente entusiasticamente escrevia:

«As letras em Portugal já teem um Templo! Um Templo á Arte! Um Templo ás Letras! Num paiz em que os governos devoram por anno o melhor de sessenta a setenta mil contos das receitas publicas, deixando apenas umas miseras migalhas para a malfadada instrucção publica! Qua audácia! Pois são destas audácias que o paiz precisa (...)»

Os irmãos Lello ao decidirem construir um edifício próprio e sumptuosos, sendo o primeiro  do género em Portugal, contrataram o engenheiro construtor Xavier Esteves, professor do Instituto Industrial e Comercial do Porto. Apesar das grandes dificuldades que se deparou na construção acabou por executar uma verdadeira obra de arte, ainda hoje considerada das mais belas livrarias do mundo.

                                                        Duas perspectivas da sala grande da livraria, em 1906

  

Galeria da livraria, em 1906

Anúncio de 1907    

1909

A fachada da livraria , num estilo neogótico foi construída em cimento e pintada num tom, que ao fim de uns meses se assemelharia a um edifício antigo. Ladeando a tripla janela duas pinturas da autoria do professor José Bielman. A  da esquerda simboliza a Arte (a Escultura), ao segurar um busto com a mão esquerda. A da direita simboliza a Ciência (a Antropologia), e segura nas suas mãos uma caveira e um instrumento de medição.

                           Fachada em 2012                                                  Fachada em 2016 depois de restaurada

           

Num interior em estilo gótico, na sala grande da livraria podem-se observar nos pilares que sustentam a cobertura e galeria os bustos, esculpidos por Romão Júnior, de Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Antero de Quental, Tomás Ribeiro, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro.                                    

   

Entrada na sala grande da livraria

A escada e a galeria foram construídas em cimento armado de modo a suportar o peso dos livros

   

O tecto da livraria foi enriquecido com um vitral de 8 metros de comprido por 3,5 metros de largura. A divisa no centro do vitral «docus in labore, enlaçada no monograma da Lello e Irmão, recordaria ao estudioso a norma moral que como complemento desse attractivo intelectual, presidiria aos actos sociaes.»

A título de exemplo de obras publicadas pela editora, Lello & Irmão, o "Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro", em 2 volumes, “Lello Universal”  do qual possuo a edição de 1973.

Com a criação da nova sociedade “Prólogo Livreiros, S.A.”, em que um dos herdeiros da família Lello se mantem accionista, todo o espaço foi restaurado em 1995 e a Livraria está, hoje, apta a responder aos novos desafios com um serviço actualizado e informatizado, disponibilizando ainda um espaço de galeria de arte e de tertúlia entre intelectuais, que constitui um importante polo cultural da cidade do Porto.

«Ella ficará sempre como um dos mais bellos edificios do paiz, e com ufania, diremos que do estrangeiro, pois que ninguem nos informa have-los lá que lhe sobrelevem.»

fotos in: Hemeroteca Digital, Do Porto e Não Só, Livraria Lello

3 comentários:

Julio Amorim disse...

Que maravilha....

Gui Garcia disse...

Prova de que a inteligência e o bom gosto, podem sim se materializar!!! É de uma beleza comovente!

POSTMAIL disse...

Parabéns pelo seu belo Blog e que vem a enaltecer a cultura de forma ímpar.Eu possuo o Lello Universal de quando lançado,os (04) volumes,um legado que minha vovó me deixou, e
realmente é uma obra magnifica em todos os sentidos.Parabéns mais uma vez.