Restos de Colecção: março 2012

16 de março de 2012

Siderurgia Nacional

Estávamos em 1944 e o governo do Dr. Oliveira Salazar aprovava a lei sobre Fomento e Reorganização Industrial. A siderurgia era prioritária. Nos anos seguintes, o presidente do conselho avançou com os estudos para a criação de uma «verdadeira indústria de metalurgia de ferro», e António Champalimaud concorreu - e ganhou - a concessão. Em 31 de Dezembro de 1954 foi constituída a Siderurgia Nacional, e em 1955 o Dr. Oliveira Salazar publicou um alvará em que dá à empresa o exclusivo do fabrico de gusa, aço e laminados, pelo prazo de dez anos.

A sua criação integrou-se numa linha política de realização de grandes empreendimentos económicos, e correspondeu a uma notável mobilização nacional de recursos financeiros, bem como a um projecto de aquisição de competência e autonomia tecnológica, que seria coroado de êxito (em três anos, todo o controlo da produção passou a ser garantido por técnicos e operários nacionais).

Panorâmica geral da “Siderurgia Nacional”

                                  Serviços administrativos                                                         Oficinas gerais

          

De acordo com o programa inicial, o projecto a empreender pela “Siderurgia Nacional” tinha duas fases de execução. A primeira envolvia a construção, em Leixões, de um forno de redução eléctrica com uma produção anual de 30 mil toneladas e, no Seixal, de uma aciaria e laminagem para o fabrico de 80 mil toneladas de perfis a partir de gusa produzida no forno eléctrico e da recuperação de sucatas. A segunda fase, planeada para arrancar depois de 1958, dividia-se em duas etapas e envolvia a instalação na região do Seixal de um alto forno a coque para a produção de 200 mil toneladas de gusa e, em Leixões, de dois fornos Krupp-Renn com capacidade de 120 mil toneladas.

                                                                Siderurgia integrada - Fluxo de produção

                                                

A primeira fase da “Siderurgia Nacional” no Seixal foi inaugurada pelo Presidente da República Almirante Américo Tomás em 24 de Agosto de 1961 depois das obras terem sido iniciadas em 1958. Na inauguração o Ministro da Economia Ferreira Dias no seu discurso de inauguração proferiu a célebre frase «País sem siderurgia, não é um país, é uma horta». No mesmo discurso diria ainda:

«os últimos 10 anos trouxeram-me alegrias profissionais que os primeiros 50 anos de vida me negaram, porque os passei, quanto a esse sector, numa apagada e vil tristeza (...). Mas depois que entrou a ordem na vida portuguesa e depois que os espíritos se afizeram à ideia de pensar nos factos económicos ligados à produção, tenho tido uma série numerosa de dias felizes, embora insuficientes para minha satisfação; mas nestes há 3 que sobrelevam os outros, porque neles se fizeram inaugurações de obras-tipo pelas quais lutei até ao último reduto da minha fé e que excitaram a minha imaginação desde o tempo longínquo de estudante: a central do Castelo do Bode, 1.ª obra da rede eléctrica primária, em 1951; a electrificação dos caminhos-de-ferro, em 1957; a siderurgia, em 1961.» in: Ordem dos Engenheiros

Inauguração

                                        

António de Sommer Champalimaud, presidente do concelho de administração da “Siderurgia Nacional”, seria nesta cerimónia agraciado com a grã-cruz da ordem do Mérito Agrícola e Industrial.

                                  António Champalimaud                            Condecoração a António Champalimaud

                                

Aproveitando uma área natural junto do estuário do Tejo, importante via de circulação, onde se localizavam antigos moinhos de maré, a implantação da Siderurgia Nacional, em 1961, converteu e transformou este local num sítio de excelência industrial, que à época simbolizava a modernidade e progresso nacional, correspondendo a um modelo de auto-suficiência de produção de um bem que era sinónimo de riqueza – o aço – alimentando um conjunto de indústrias ou empresas contemporâneas como: caminhos-de-ferro; construção civil; obras públicas, etc.Tanto para escoar produto acabado como para abastecimento desta unidade fabril foi construído um cais com 250 metros de comprimento apto a receber navios entre 15 e 20 mil toneladas, além de contar também com caminho de ferro.

                                       Cais                                                                         Linha férrea

           

                                     Central eléctrica                                                               Central de oxigénio

         

Elemento basilar no processo de fabricação do aço por via integrada, o alto forno organiza o processo siderúrgico a montante (todas as operações para o tratamento das diferentes matérias primas) e a jusante (fabricação dos diferentes produtos – longos, laminagem, etc.), representando simultaneamente o momento da fabricação da gusa e a estrutura mais carismática do recinto produtivo.

                                                                            Complexo dos altos fornos

                                       
                                                     © Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de

                                                           
                                                           © Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de

        
                                                                                                         © Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de

O crescimento sustentado da procura interna de produtos siderúrgicos com larga aplicação na construção civil contribuiu para que a empresa, alicerçada no seu exclusivo, registasse desde 1963 constantes aumentos de vendas, ultrapassando a sua capacidade produtiva nominal em 1965.

                                                                   Controle das ventoinhas e altos fornos

                                        
                                          © Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de

                                                                            Torre de arrefecimento

                                                         
                                                          © Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de

                              Sector de coquerificação                                                               Fundição

         
                                                                                    These two images: © Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de

   
These two images: © Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de

Durante uma das décadas mais prósperas do séc. XX português, de 1964 a 1973, a “Siderurgia Nacional” surge como um factor-chave de todo esse desenvolvimento e como um ponto de referência na capacidade de organização empresarial. Posteriormente, conjunturas internacionais entre as quais se destaca o chamado "primeiro choque petrolífero", em fins de 1973, bem como o reequacionamento da indústria metalúrgica, motivado pela consciência de que as grandes unidades fabris tinham sido criadas dentro de um quadro macro-económico muito diferente do que então se verificava, conjugadas com circunstâncias nacionais específicas (instabilidade política e social, durante os anos imediatamente posteriores à Revolução de 25 de Abril de 1974) culminaram na nacionalização da Siderurgia Nacional em 16 de Abril de 1975, e no seu posterior estatuto de Empresa Pública em 16 de Dezembro de 1976.

                                        Bomba de gás                                                             Sector de sinterização

   
These two images: © Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de

A alteração das condições políticas, económicas e sociais conduziram à reprivatização da Siderurgia Nacional, processo que se iniciou 20 de Novembro de 1992 e concluído em 31 de Março de 1997.

                                   Sede e escritórios na Rua Braancamp, esquina com a Rua Castilho, em Lisboa

                                                                

fotos in: Stalseite Industriefotografie, Arquivo Municipal de Lisboa

Mas, como resultado de conjunturas várias, a partir desta altura, a “Siderurgia Nacional” entrou numa fase de recessão que culminou, em Março de 2001, no seu encerramento perdendo a freguesia de Paio Pires, desta forma, uma parte significativa do seu tecido industrial. Dos seus 40 anos de funcionamento permaneceu o vasto sítio industrial, onde o Alto Forno, marca da paisagem de Aldeia de Paio Pires, é identificado não só como símbolo máximo da “Siderurgia Nacional” mas também como elemento representativo do labor e das memórias de milhares de trabalhadores que em meio século protagonizaram o mais denso período de mudança por ventura ali vivido ao longo dos séculos.

15 de março de 2012

Pronto-Socorro «Fargo» do ACP

Os primeiros camiões «Fargo»  foram construídos em Chicago pela “Fargo Motor Car Company” entre 1913 e 1922. Em 1928 A Chrysler comprou a empresa e criou os seus próprios modelos da Fargo. Pouco tempo depois a Chrysler compra a empresa “Dodge Brothers Company”, e adiciona os camiões «Dodge» e «Graham Brothers» à sua gama de produtos.

Desde então , os camiões «Fargo» tornaram-se praticamente idênticos aos «Dodge» e eram comercializados pelos agentes da “Chrysler-Plymouth”. As vendas nos Estados Unidos terminaram em 1930, mas a marca «Fargo» foi utilizada até 1972 no Canadá.

As camionetes «Fargo» começaram a ser comercializadas em Portugal em Agosto de 1929, pela firma “A. Beauvalet” na rua 1º de Dezembro, em Lisboa.

                                                                                 Anúncio de 1929

                  

O modelo de Pronto-Socorro, da «Fargo»  do  "Automóvel Clube de Portugal",  reproduzido nas fotos abaixo, foi importado do Canadá e entrou ao serviço, salvo erro, em 1953 .

        

        

        

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian

14 de março de 2012

Cinema Alvalade

O cinema “Alvalade”, uma das antigas grandes salas de cinema de Lisboa, situava-se no Bairro de Alvalade, na esquina da Avenida de Roma com a Rua Luís Augusto Palmeirim. Projectado pelos arquitectos Lima Franco e Filipe de Figueiredo, em 1945, a quando da construção do Bairro de Alvalade, foi inaugurado em 8 de Dezembro de 1953.

Tinha capacidade para 1.485 espectadores distribuídos por 766 na plateia, 229 nas tribunas, 212 no 1º balcão e 278 no 2º balcão. Dispunha de 5 «foyers» três dos quais providos de bares.

O cinema “Alvalade” abriu as suas portas com o filme brasileiro “O Cangaceiro”, ao qual assistiu o embaixador do Brasil em Portugal no dia da inauguração.

 

Segundo Lauro António: «durante décadas, o São Luiz no Chiado e o Alvalade na Avenida de Roma projectavam o mesmo filme. História curiosa e divertida de contar. Quando dissemos que projectavam o mesmo filme não nos referimos a passarem cópias de um idêntico título, mas sim exibirem a mesma cópia.

O engenhoso esquema montava-se da seguinte forma: numa das salas o filme começava às 15.00 horas, na outra às 15, 15 horas. Na que começava mais tarde, antes do primeiro intervalo, exibiam-se um jornal de actualidades, um documentário curto, um filme de animação e ainda trailers de próximas estreias. O filme de fundo só iria iniciar-se em princípio cerca de 40 ou 50 minutos depois do arranque da sala anterior. O tempo suficiente para as primeiras bobines que tinham passado, por exemplo, no São Luiz chegarem ao Alvalade, levadas por um estafeta de motorizada que fazia o percurso por três ou quatro vezes por sessão.

Quando não havia muito trânsito, a coisa corria bem, quando acontecia algum engarrafamento era pior. Um dia, estava eu no Alvalade a ver um filme, e o intervalo nunca mais acabava: o estafeta tinha sofrido um acidente na sua moto e alguém teve que substituir o acidentado e retomar as bobines numa outra viatura. Parece que não foi nada de grave para o estafeta, nem o filme sofreu escoriações a mais do que as normais naquele tempo.»

A parede do foyer do cinema junto às escadarias para os balcões superiores foi decorada com uma obra da pintora Estrela da Liberdade Alves Faria.

 


bilhete gentilmente cedido por Carlos Caria

 

Encerrado, em 1985, foi arrendado pela “Igreja Universal do Reino de Deus” até ao ano 2000. Depois de anos votado ao abandono, foi iniciada a sua demolição em 2003.

No seu lugar viria a ser erguido um edifício de oito pisos, com projecto do arquitecto Rui Rosa destinado a habitação - “Holywwod Residence” - escritórios e com uma zona de diversão onde existem 4 salas de cinema, com capacidade total de 381 espectadores, um bar, lojas e estacionamento automóvel. A abertura deste espaço ocorreu a 22 de Janeiro de 2009.

                               “Holywwod Residence”                                       Hall de entrada da zona de café e cinemas

        

Quanto ao espaço de cinema designado de “Cinema City Classic Alvalade” é composto por 4 salas com a s seguintes capacidades: Sala1: 100 lugares; Sala 2: 89 lugares; Sala 3: 112 Lugares e sala 4: 80 lugares. A pintura de Estrela Faria foi restaurada e reposta no mesmo lugar que ocupava no antigo edifício.

                                              Sala 1                                                                                 Sala 2

        

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian

13 de março de 2012

Panfletos Políticos (7)

                                                                   12 de Outubro de 1910

                                 

                                                                                 1958

                                 

                                                                  1975 (Intersindical Nacional)

                                  

Panfletos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca Nacional Digital, Ephemera